Juventude Transviada

Espero um beijo,
um afeto, um queijo,
um abraço ao sereno.
Mas "aquele abraço" imenso
e espero, há um certo tempo.
Quero até
esquecidas lágrimas de desilusões.
Quero o carinho
e a magia da noite desnuda.
Quero um encontro,
a essência,
o sentimento,
o brilho das estrelas.
Quero aqueles sons de antigamente,
das parada de sucessos,
vibrantes e quentes.
O sonho nunca acabou.
Ainda almejo paz e amor.
Dançar juntinho,
com aquele gostinho de proibido...
Sentir o perfume da adolescência
grudadinha num disco dos Beatles,
pronto pra pôr na vitrola.
Suar frio com o coração.
E o cheiro da cuba-libre,
misturado com poesia.
Depois do bailinho,
esperar o sol nascer na calçada,
na porta da padaria,
pra tomar o café da manhã.
Ouço Nara Leão,
mascando chicletes
e vem aquela vontade de voltar pra trás,
de estar na carteira da escola,
passando cola,
trocando olhares
com a saia justa
enrolada na cintura
só pra sair de mini-saia.
Ou cabular aula de educação física
pra fumar no banheiro escondido...
Ou então a aula de matemática
pra ir ao cinema com a turma,
encontrar com o namorado,
só pra olhar nos olhos e pegar na mão.
Pegar na mão demorava alguns meses.
Eram tantas as reticências,
Mas, descontraídas
incrìvelmente despojadas.
Faço questão de ainda usar crase.
Quero curtir um rock,
o mais bonito,
mais ingênuo,
como se ainda estivesse lá.
Não há como o tempo dizer:
- Vou pensar.
Mil novecentos e antigamente se foi.
E não volta nunca mais.

Cecília Fidelli.